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Superando dificuldades

Celina construiu sozinha sua própria casa

 

Por Jeanderson Kelmer

 

 

Quase metade da população brasileira (49,25%) com 25 anos ou mais não tem o ensino fundamental completo, segundo dados do Censo 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual representa 54,5 milhões de brasileiros. Outros 16 milhões (14,65%) acima de 25 anos concluíram o fundamental, mas não chegaram ao fim do ensino médio. Nessa faixa etária, 35,8% da população concluiu, ao menos, o ensino médio, enquanto que 11,26% têm nível superior completo.

 

Os índices de educação estão atrelados com a falta de capacitação profissional e com a dificuldade de se encaixar no mercado. Apesar dos números e estatísticas, existem pessoas que não se acomodam com a sua situação e através de muito esforço conseguem reverter os quadros.

 

Um exemplo é a história de Celina Aparecida Herculano Antonyo, 49 anos, que buscando uma condição de vida melhor, entrou no curso de Construção Civil oferecido pela Casa de Cultura Evailton Vilela e, basicamente sozinha, construiu a sua própria casa.

 Viúva, mãe de três filhos, Celina deixou a cidade de Leopoldina para vir morar em Juiz de Fora com seu filho caçula. Trabalhando como costureira, ela foi aos poucos juntando dinheiro e conseguiu parcelar a compra de um terreno e começou a construir a sua própria moradia.

 

Uma queda de sete metros de altura, quase frustrou os planos de Celina, que torceu os nervos da perna e foi obrigada a se afastar do trabalho durante um ano. Foi nesse período de licença que ela conheceu a Casa de Cultura.

 

Buscando uma nova atividade, mesmo com a debilidade provocada pela lesão na perna, a costureira decidiu entrar no curso de Construção Civil oferecido pela entidade. “Foi muito importante o curso para mim. Se não fosse por ele, eu não teria chegado aonde cheguei, pois não teria condições de pagar um pedreiro, para construir minha casa”.

 

Em um curso que majoritariamente é frequentado por homens, Celina diz não ter se importado com preconceitos e a sua força de vontade foi fundamental para seguir adiante. “A necessidade às vezes te obriga, não teria condições de pagar pedreiro, material e comprar o terreno. Com a ajuda deles (instrutores do curso) e com a minha força de vontade, porque a gente também tem que querer. Se você não tem força de vontade, não adianta pegar um serviço que você não queira fazer. Quando você não quer você não consegue, mas se você quiser e acreditar que é capaz, você consegue. Foi por isso que cheguei aonde cheguei”.

 

E foi assim que, após oito meses, em dezembro de 2013, Celina concluiu o curso, e aos poucos, levantando tijolo por tijolo – onde antes era um porão com chão de terra batida – construiu a sua própria casa. A planta da casa foi feita pelo professor do curso e a vizinhança ajudou com o material de construção: “Eu não tinha material pra fazer, então trabalhei de copeira e também de faxineira, e aos poucos fui comprando o material. Um dia comprava cimento, outro dia comprava areia e, assim, aos poucos fui construindo. Às vezes não tinha dinheiro e, mesmo assim, os meninos da casa de construção me vendiam fiado, porque sabiam do meu objetivo”.

 

Celina também destaca que a ajuda só veio por sua força de vontade.

Mesmo a casa já levantada, a obra ainda não está totalmente concluída. Mas, aos poucos, o sonho da casa vai se completando. “O mais difícil que era a laje já está levantada. Agora aos poucos vou fazendo o acabamento, falta ainda à fiação elétrica, os pisos e, no futuro, construir uma cobertura”. 

Sonhadora, Celina pretende ir mais longe. Ela voltou a estudar e em dezembro de 2015 deve concluir o Ensino Médio. E tem mais planos:

Estruturando projetos

 

A Casa de Cultura funciona no bairro Santa Efigênia, na zona sul de Juiz de Fora. Foi criada em abril de 2008 e atende, atualmente, cerca de 200 pessoas. Entre as atividades, a casa possui cursos profissionalizantes, oficinas educativas e esportivas, além de atendimentos com psicólogo, fonoaudiólogo e assistente social. Para se inscrever nos projetos, os interessados passam por uma entrevista com a assistente social, que faz uma triagem para verificar se os candidatos se encaixam nos requisitos socioeconômicos.

 

A auxiliar administrativa da Casa, Maria Angélica da Silva Januário, ressalta que além do ensino de um ofício os cursos trabalham muito a autoestima e a socialização dos alunos: “O aluno sai preparado para o mercado de trabalho, mas não apenas isso. Aqui ele também desenvolve disciplina, postura profissional e, além disso, o mais importante é que ele volta a acreditar [sic] e a se sentir melhor com ele mesmo. Muitas pessoas chegam à Casa com problemas que vão muito além do financeiro, que atingem o emocional e, através dos laços que são formados aqui, eles conseguem recuperar a confiança e a moral”.

 

O presidente da Casa de Cultura Jefferson da Silva Januário, conhecido como Negro Bússola, diz que o foco dos projetos da entidade hoje é na qualidade dos cursos, independente da quantidade de alunos. 

 

Além dos cursos profissionalizantes, o principal objetivo da Casa para 2015 é investir e trabalhar com a comunidade em projetos audiovisuais. Há um curso voltado para adolescentes desenvolvido em parceria com a TIM, onde os alunos vão produzir duas animações curta-metragem. Outra iniciativa é o Museu da Memória da Pessoa Comum, que vai reunir o acervo documental da comunidade do bairro Santa Efigênia.  

Arte do bem

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