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Facebook: um espaço de pouco dissenso?

 

Como a rede social priva seus usuários de entrar em contato com novas ideias e, portanto, solidifica a formação da opinião

 

Cristiana Magalhães

 

           O surgimento tão recente da Internet e a rapidez em que a web ficou disponível para uso pessoal, e cada vez mais pessoal,  proporciona um conhecimento raso de sua capacidade. Mais recentemente, Julian Assage, idealizador do Wikileaks, afirmou que o Facebook é a máquina de espionagem mais assustadora.  Essa afirmação pode ser verificável em vários níveis: visíveis e os que mal temos ideia.

           A rede social Facebook, assim como outras redes e mecanismos de busca, funcionam através de algoritmos. A meta é entregar ao usuário um jornal personalizado, que a cada dia apresenta ao internauta um conjunto de histórias que, espera-se, sejam as mais interessantes. O doutorando Vínícius Werneck, estudante da Universidade de Harvard, conta que apenas 20% das 1500 histórias possíveis que poderiam aparecer no feed de um usuário médio da rede, fica efetivamente disponível, por operações desses algoritmos. 

“Entram no algoritmo do Facebook a relação que cada pessoa tem com você, o número de curtidas, comentários e compartilhamentos da postagem, as últimas 50 interações suas com a rede, etc”

Veja a entrevista com o analista de redes, Renan Caixeiro, que fala um pouco sobre onde estão presentes os algoritimos e a sua opinião sobre privacidade na internet. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           Esse algoritmo, entretanto, não é algo estático: o Facebook tem alterado constantemente sua lógica como, por exemplo, quando aumentou a proporção de vídeos com início automático, histórias antigas que se tornaram relevantes, mais notícias de alta qualidade e menos virais. 

           O doutorando em Ciências Humanas pela UFJF, Ramsés Albertoni, relata a experiência que fez em sua página do Facebook nas eleições de 2014 para presidente da República. Ramsés, a favor do voto nulo, fez uma sequência de postagens incluindo dois conteúdos a favor e dois contra à candidata Dilma, dois a favor e dois contra ao candidato Aécio Neves, e um a favor do voto nulo. “E pessoas que eram a favor da Dilma pensaram que eu também era, e o mesmo aconteceu com os meus amigos que votaram no Aécio Neves. Poucas pessoas recebiam os conteúdos relacionados à campanha do voto nulo”. Ramsés também critica o conceito de rede e trabalha com outro termo para definir o que seria o universo do Facebook.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           Tomando esse fato como premissa, chegamos a conclusão que nem sempre temos o convívio necessário, outras ideias e outras possibilidades de pensamentos que poderiam ser oferecidos nas redes de contato com outras pessoas. O que é falado sobre a proatividade do usuário e capacidade de produzir conteúdos com tanta facilidade, que não seriam possíveis em outros meios de comunicação como televisão e rádio, deve ser pensado. Produzir seus próprios conteúdos e não ter possibilidade de interagir com pensamentos diferentes provocam a inércia do próprio ponto de vista.

 

          “Cada vez mais o Facebook se torna um local onde se vê pouco dissenso e muito consenso, e em que os usuários são pouco convidados a lidar com o dialético”, acrescenta Werneck. Albertoni também comenta sobre isso, convidando ao usuário atuar consciente do sistema utilizado nos meios. “Por isto, é preciso que o sujeito, o ator social, tenha consciência desta manipulação e procure fazer contato com pensamentos e pessoas que contradigam a sua visão de mundo".

 

           Essa discussão sobre formação de pensamento e estrutura do meio comunicação se estende para além dos meios virtuais. A professora e pesquisadora Gabriela Borges, defende a tese de que a Literacia Midiática é o conhecimento do funcionamento das mídias adquirido por nós ao longo da vida.

 

 

“Por isso, trabalho com o conceito de "listras sociais", ao invés de "redes". Se houvesse esta rede, as relações seriam mais ricas e complexas. No entanto, o que ocorre são listras sociais que dificultam que posições contraditórias e contrastantes sejam vivenciadas"

Ramsés Albertoni, doutorando em Ciências Humanas

Vinícius Werneck, estudante da Universidade de Harvard

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