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por Claudia Rangel e Pedro Henrique Rezende

A luta de mulheres negras contra o preconceito histórico de raça e de gênero

Em "Casa Grande e Senzala", Gilberto Freire fala da violência sistemática dos senhores de engenho às negras na senzala e como essa situação se reflete na formação da identidade brasileira. As moradoras de Juiz de Fora, ativistas Adenilde Petrina e Carolina Perez Bezerra, representam parte do movimento de resistência no combate ao preconceito de raça e de gênero.         

 

Carolina aponta que “a mulher negra está na base da pirâmide social” e complementa: “Quando a gente vê uma mulher limpando ou sendo babá, isso é naturalizado por conta do forte imaginário da escravidão”. Em relação à herança do período escravista, Carolina lembra a desumanização do corpo da mulher negra. “Se criou [sic] no imaginário a ideia de que o negro é mais suscetível à dor do que o branco”, diz. Em decorrência disso, ela afirma que “o número de relatos de mulheres que sofrem violência no parto é imenso”.

 

 

 

 

     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No movimento de combate aos preconceitos de raça e gênero, intrínsecos à formação do país, há mulheres negras que lutam por melhorias e discutem esta situação. Apesar das dificuldades de dar voz às mulheres negras, a militância cresce. Adenilde Petrina conversa conosco sobre esta problemática:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em Juiz de Fora existem grupos que apoiam a causa, como o Chica da Silva, Movimento de Mulheres Negras e também a Marcha das Vadias. As manifestações que eclodiram em todo o país  em junho de 2013, levantando temáticas relacionadas às minorias sociais, também recolocaram em cena  a necessidade de combate ao racismo e ao sexismo, mas não de forma enfática.  “A questão da mulher negra foi levantada de maneira tímida, porque o pessoal não conseguiu perceber que a mulher negra sofre um preconceito a mais’’, explica Adenilde.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma parcela de mulheres negras não se sente representada por grupos de militância. É o caso de Marta Souza, empregada doméstica, moradora do Bairro Jóquei Clube II na zona norte da cidade. "Existe mais preconceito do que luta pelos direitos das mulheres negras", acredita. Ela conta que, por diversas vezes, já sofreu preconceito por ser negra e doméstica, mas raramente se sentiu representada pelos movimentos. "Ainda falta muita informação, quase não vejo nada sobre manifestos. Em junho, quando as manifestações aconteceram, não me senti representada em nenhum momento".

 

 

 

 

 

 

 

      

 

 

Novas formas de organização on-line

 

A Marcha das Vadias organiza em Juiz de Fora atos que promovem a discussão de temas relacionados a mulher. “É um movimento novo na cidade e, como tudo que é novo, ainda precisamos lapidar várias ferramentas de divulgação e organização dentro do movimento”, explica Mylena Melo, uma das organizadoras da marcha. A Internet é a ferramenta mais ativa da Marcha, que possui um grupo para discussão de temas e ações e também um web-site.            

 

“A Internet não pode ser o único meio de divulgação, pois sabemos que nem todas mulheres têm acesso à rede, principalmente quem mora na periferia”,comenta Mylena. Para tentar contornar o problema de divulgação do movimento, a Marcha procura fazer parceria com as associações de bairro. Um exemplo é o “Guerreiras em Ação”, grupo de mulheres do bairro Ipiranga que foi descoberto através da parceria com as associações. “A mulher negra que é oprimida na periferia tem o mesmo direito de lutar que a mulher branca, que é oprimida no centro da cidade”, contextualiza Mylena.         

 

Além de os meios de comunicação de massa tradicionais - como rádio, TV e impressos - pouco debaterem a questão da mulher negra, ainda há o agravante de que contribuem para a disseminação de representações desvirtuadas da realidade. Um recente exemplo foi a reportagem veiculada em 03 de novembro de 2013 no programa Fantástico, da rede Globo. O programa tratou o tema da abolição da escravatura de forma vexatória, ridicularizando políticas do governo como  o regime de cotas e o programa Bolsa Família. Há falhas e corrupção, sim. É preciso uma discussão e intervenção maior da sociedade sobre essas políticas chamadas de democráticas mas que são, na realidade, frágeis, paliativas e eleitoreiras.

 

A Internet, neste aspecto, apresenta-se, em princípio, como meio livre para a circulação de informações, potencializando discussões e servindo como canal para a sensibilização sobre a problemática histórica das mulheres negras contra o preconceito herdado do período escravista, já superado em leis escritas mas ainda visivel forte e presentemente nas práticas sociais cotidianas brasileiras, urbanas e rurais.

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