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Arte do bem

Associação de palhaços hospitalares de Juiz de Fora leva alegria a crianças e adultos nos hospitais da cidade

 

Por Marlon Gabriel

Muitos já devem ter ouvido que "rir é o melhor remédio" ou que um sorriso pode mudar o dia. Talvez esses ditos populares não estejam tão errados assim, pelo menos não para os diversos grupos de palhaços hospitalares ao redor do mundo.

 

Uma boa referência está na história do médico norte-americano Hunter Doherty Adams, o famoso doutor Patch Adams, que ganhou notoriedade tanto pelo filme " Patch Adams - O Amor é Contagioso" (1998), protagonizado pelo ator Robin Williams, quanto pelo seu tratamento nada ortodoxo com os pacientes iniciado bem antes da produção do longa hollywoodiano. Adams parte do princípio de que a amizade e as relações sociais são fundamentais no tratamento médico. Mesmo que alguns o considerem louco por atender seus pacientes com nariz de palhaço e visual extravagante, aos poucos essa barreira foi quebrada e, ao longo dos anos, seu trabalho reconhecido. Organizações não-governamentais (ONGs), associações, grupos, institutos etc. surgiram em vários pontos do mundo, inclusive em Juiz de Fora, motivados pelas suas ideias.

 

Primeiros encontros

Um caso exemplar aconteceu com a pensionista Ione Luzia Valério, de 60 anos, internada  há oito dias na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. No dia 5 de abril, ela foi surpreendida pelo grupo Médicos do Barulho, que realiza esse trabalho de visita a pacientes de hospitais há 18 anos. Ione conta que já conhecia o trabalho deles por meio de reportagens na televisão e que ficou curiosa para saber o que eles fariam no hospital naquele dia. No início, ao olhar pela janela ela imaginou que seria uma visita aos quartos infantis, mas a trupe animada entrou em seu quarto.

Um outro caso aconteceu com a dona de casa Geralda Pandolf Silva, de 74 anos, companheira de quarto de 

Ione. Geralda, há 18 dias internada,  não conhecia o trabalho do Médicos do Barulho e gostou da iniciativa. Ela diz que todos no quarto foram pegos de surpresa. "Aquele foi um momento rápido, não demorou muito e [sic] que reavivou a alegria de muitos."Tem muita gente em hospital que não tem ninguém, está abandonado mesmo", observa.

O primeiro grupo de palhaços hospitalares que surgiu em Juiz de Fora foi o Médicos do Barulho e desde sua fundação em 1996, pelo comerciante Amaury Mendes, vem prestando uma ação solidária a vários hospitais da cidade, como a Santa Casa de Misericórdia e o Instituto Oncológico.

 

Tudo começou quando Amaury, conhecido como "Fuzil", ouviu a sugestão do diretor da Faculdade de Enfermagem para que ele fizesse na cidade algo semelhante ao trabalho dos Doutores da Alegria, realizado em São Paulo. Na época, ele já atuava há 10 anos como palhaço e também trabalhava como servidor público na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Foi assim que Amaury foi à São Paulo para conhecer de perto o trabalho deles e, desde então, vem realizando uma ação parecida em Juiz de Fora.

Inicialmente, apenas Amaury e um amigo iniciaram o projeto. O primeiro hospital a recebê-los foi a Santa Casa de Misericórdia. Hoje, a Associação Médicos do Barulho atende a pelo menos dois hospitais na cidade e conta com cerca de 100 voluntários. Qualquer um pode ser um médico do barulho, desde que tenha boa vontade. Não é obrigatório saber cantar, tocar ou atuar porque há várias outras possibilidades de contribuir como voluntário, como por exemplo exercendo atividade de recreador, prestador de serviços de auxílio a associação, como produtor de vídeos, releases entre outras.

Com muita animação e boa vontade, o grupo chega à Santa Casa disposto a quebrar a monotonia do hospital. O trabalho começa às 18h45, quando todos se reúnem na entrada da unidade hospitalar da Santa Casa de Misericórdia. Ali mesmo, o bom humor já se faz presente e se mantém enquanto caminham pelos corredores do hospital até chegaram no refeitório, onde começa de verdade o "barulho”. Todos ajudam na preparação do local,  espalhando os brinquedos nas mesas para receber as crianças. Após isso, o grupo se divide em dois: uma parte vai aos leitos convidar os familiares a trazerem os pequenos para a recreação e o outro fica à espera das crianças.

 

Quando as crianças chegam, todas são acolhidas e podem escolher qual brinquedo ou atividade mais lhe agrada. Toda a ação é bem dinâmica, os voluntários que se vestem de palhaços vão aos leitos, ou melhor, quartinhos das crianças e fazem uma visita bem divertida, com muita conversa e brincadeiras. Não é raro que os pais e acompanhantes também acabem se divertindo com as peripécias dos visitantes, como a cabeleireira Rosilene da Silva Juscelino, que estava bem a vontade e estimulava o filho - que está internado-  a participar das brincadeiras da palhaça Cremilda.

Rosilene  conta que conheceu o trabalho dos Médicos do Barulho quando seu filho teve dengue e também já havia visto matérias sobre eles na televisão. Ela considera o trabalho do grupo "muito humano" e rico em solidariedade.

Para baixinhos e altinhos

 

Além do trabalho lúdico com as crianças, o Médicos do Barulho também realiza visitas a leitos de pacientes adultos e idosos. Amaury revela que não há nada programado nessas visitas, tudo ocorre de acordo com a situação e o paciente. “É tudo improvisação, nada se repete. Você não sabe o que vai encontrar pela frente, qual o problema do paciente, é tudo na hora, cada visita é uma novidade”. Ele 

conta que apesar das diferenças etárias entre os grupos atendidos nessas visitas, no fim das contas todos carregam a mesma energia das crianças. "Com os adultos, já é mais um diálogo, aumentam-se as conversas para descontrair, para conhecer mais a pessoa, mas no final tudo é a mesma coisa. Rolam as palhaçadas porque você incorpora o palhaço e trabalha como se o adulto fosse uma criança".

O presidente da Comissão de Humanização da Santa Casa de Misericórdia, Padre José Leles da Silva, diz que o trabalho do Médicos do Barulho é benéfico para os pacientes. De acordo com ele, que também é psicólogo, as atividades aliviam a 

 

 

A psicóloga Lívia Cristina Silva de Souza faz parte do grupo de psicólogos da Comissão. Ela fala sobre a perspectiva dos adultos  sobre as visitas de palhaços hospitalares, observando que os mais velhos também demonstram esse processo de melhora, mas o impacto é um pouco menor por não envolver tanto a fantasia. A principal diferença entre os adultos e crianças é que os mais velhos interagem com maior facilidade com os visitantes. "Eles brincam mais. As crianças, às vezes, ficam um pouco assustadas, brincam devagarzinho. Já os adultos provocam, chamam, entram na brincadeira, fazem piadas. Fica uma troca muito bacana", comenta.

Saiba mais:

 

- Veja a entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura em 2004, pelo  médico Hunter Doherty Adams. Nela ele conta um pouco sobre sua vida, trabalho, opiniões etc.

https://www.youtube.com/watch?v=eXpIH7kbdts

 

- Outra dica é  assistir ao filme "Patch Adams- O Amor é Contagioso" (1998), baseado na vida e livros de Hunter Doherty Adams. Com Robin Williams, Josef Sommer, Phillip Seymor Hoffman, no elenco. Direção de Tom Shadyac.

Recreador do grupo "Médicos do Barulho" na Santa Cada de Misericórida de Juiz de Fora  

Foto: Marlon Gabriel

tensão causada nos internos por estarem em um hospital, fora de sua rotina. "A gente sabe que ocorre a baixa da imunidade na criança, quando ela sai de casa,  e fica muito propensa à infecções. Com o trabalho de imunização dos enfermeiros, médicos, técnicos e com essa ajuda lúdica do pessoal do barulho, a criança dá uma levantada na sua expectativa de vida e passa a ter mais esperança. Isso é muito importante na recuperação".

De ponto em ponto

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