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Há 16 anos, Juiz de Fora reserva uma semana do mês de agosto para sediar dois grandes eventos: A Rainbow Fest e o “Miss Brasil Gay”. Nesse período, as principais ruas da cidade se transformam em passarelas repletas de arco-íris (símbolo dos homossexuais) para receber os turistas e cidadãos locais que se reúnem para celebrar a diversidade.

 

A tradição em receber eventos de nível nacional, que fomentam discussões acerca da comunidade gay, faz de Juiz de Fora uma cidade com presença homossexual marcante, sendo referência na luta contra o preconceito. Esse processo surgiu com a realização do primeiro Miss Brasil Gay, em 1977. O concurso, cercado de muito glamour e rivalidade, leva em conta a beleza e carisma das misses nos desfiles de trajes típicos e de gala.

 

A população local abraçou o evento, que foi registrado como Patrimônio Imaterial de Juiz de Fora em 2007. Para o sociólogo Marcelo do Carmo, o concurso pode ser considerado um marco no movimento gay “por ter sido criado no meio da ditadura militar, numa cidade do interior do Brasil, quando a informação não circulava com a mesma velocidade dos dias atuais e era enorme o preconceito em torno da homossexualidade, até então mantida no rol das doenças”. Marcelo é doutorando pela Universidade de Paris e estuda o Miss Brasil Gay sob o olhar das misses.

Princesinha de Minas – e dos gays

Helen Lima

Pegando carona na visibilidade do concurso, nasce em Juiz de Fora a Rainbow Fest, fórum de discussão sobre a comunidade gay e de promoção da cultura LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais). A semana repleta de debates e atividades gratuitas é encerrada com a tradicional “Parada Gay”, que em 2013 reuniu cerca de 80 mil pessoas no centro de Juiz de Fora. Quem comanda a festa é o Movimento Gay de Minas (MGM), organização não-governamental que também atua na criação de projetos para a comunidade homossexual.

 

Essa eferverscência de discussões, festas e atividades voltadas para os gays contribui para a identificação de Juiz de Fora com esse público. Por ser uma cidade de estudantes, com alunos de toda a região e uma Universidade pública consolidada, a Princesa de Minas recebe muitos jovens que estão descobrindo a sexualidade, fator apontado por Marcelo do Carmo como determinante para essa identificação. Para o sociólogo, o papel da universidade nesse processo é organizar debates e avançar discussões, de forma a dar mais destaque à luta homossexual.

No vídeo abaixo, Oswaldo Braga, fundador do MGM, sintetiza os principais fatores que marcam a presença gay em Juiz de Fora:

Bom negócio

 

 

A semana gay de Juiz de Fora atrai turistas de todo o país e aquece a economia local. “Esses eventos que acontecem na cidade são nosso cartão de visitas. O presidente do MGM, Marco Trajano, afirma que R$12 milhões são movimentados durante os sete dias de festa, segundo dados de uma pesquisa de 2012. A presença de turistas gera também oferta de empregos temporários para atender a demanda em restaurantes, hoteis e outros estabelecimentos.

 

O sociólogo Marcelo do Carmo observa que as vantagens para Juiz de Fora ao receber esses eventos não são apenas econômicas. “Eles contribuem para as discussões sobre identidades, alteridades, educação para o diferente, direitos humanos, tolerância, saúde pública e diversas outras questões”. O fundador do MGM, Oswaldo Braga, também acredita no poder social da semana gay. “Ela auxilia na formação do homossexual da cidade. O gay de Juiz de Fora possui um discurso engajado e é atuante na defesa por seus direitos”, afirma.

 

A luta continua

 

 

Apesar das ações do MGM e projetos de conscientização sobre a homossexualidade, Marcos Trajano ressalta que a homofobia ainda é uma realidade em Juiz de Fora. “Ao mesmo tempo que a cidade é aberta a eventos gays, por outro lado é conservadora quando tentamos levar discussões para as escolas”. Oswaldo Braga acredita que o preconceito com os gays cresce na medida em que as pessoas se revelam homossexuais. “Ainda precisamos de políticas públicas efetivas que garantam nossos direitos e cidadania”.

 

 

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