Remei
Revista de Mídias Eletrônicas Informacionais
Lobo mau 2.0
Agora a floresta é virtual, o lobo mau está on-line e a vovozinha e o caçador nem sempre estão por perto
Talita Maria
As crianças brasileiras, de 4 a 12 anos, são as que mais acessam a Internet no mundo todo. Esse foi o resultado de uma pesquisa realizada pela Millward Brown Brasil em 12 países, que apontou que elas passam cerca de 13 horas online por semana e, como já era de se esperar, o entretenimento é o que mais as anima: do tempo gasto conectado, a maior parte é passada em jogos e similares.
Com tanto tempo dedicado à internet, as brincadeiras de rua foram transferidas para o mundo virtual e consequentemente, os riscos também. Se antes o perigo era aceitar doce de estranho, agora é uma solicitação de amizade. Para que as crianças possam aproveitar o conteúdo positivo da internet, os pais e responsáveis precisam estar sempre presentes.
Controlar é preciso
Sarah tem 9 anos, estuda de manhã e à tarde fica sozinha em casa, mas com sua avó que mora ao lado, sempre de olho. Durante o período que fica sozinha, Sarah faz a mesma coisa que toda criança na idade dela: dever de casa, assiste televisão, brinca e acessa a Internet.
Os pais trabalham o dia todo e não podem estar sempre por perto para monitorar o que a filha está fazendo, mas na hora de acessar a internet as regras são bem claras e seguidas ao pé da letra. Silvana, mãe de Sarah, explica que a filha tem 2h por dia para acessar a internet, depois de fazer as tarefas de casa, e que o histórico de acessos é monitorado por ela e o marido.
Sarah reclama, diz que queria poder ficar mais tempo na Internet, para assistir vídeos de maquiagem e desenhos animados. Para ela, o controle dos pais é excessivo, mas não é. Mesmo com tanto cuidado, Sarah teve seu perfil no Facebook invadido por hackers, é o que conta Silvana:
Prevenção nunca é demais
Como já vimos, é fundamental que os pais e responsáveis estejam sempre de olho no que as crianças estão fazendo na rede. A maioria dos crimes cibernéticos que são registrados, principalmente os que envolvem crianças, poderiam ser evitados com um pouco mais de atenção e cuidado. É preciso que todos se informem e se conscientizem para ajudar no combate a esses crimes.
No Brasil, existem diversas organizações não governamentais e projetos que lutam pela prevenção dos crimes virtuais e auxiliam no processo de denúncia. Uma dessas Ongs é Safernet Brasil, fundada em 2005 por um grupo de cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em Direito, e surgiu para materializar ações concebidas ao longo de 2004 e 2005, quando os fundadores desenvolveram pesquisas e projetos sociais voltados para o combate à pornografia infantil na Internet brasileira.
A coordenadora psicossocial da Safernet, Juliana Cunha, explica como é o trabalho da organização: “A Safernet Brasil é uma organização não governamental sem fins lucrativos responsável pela Central Nacional de Denúncias de crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet, operada em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público. Além de apoiar as autoridades no combate às violações de direitos humanos na rede, realiza um conjunto de ações de prevenção e educação com pais, educadores, crianças e adolescentes, como também a formação de multiplicadores, através de palestras, oficinas e seminários para promover o uso ético, responsável e seguro das tecnologias (TICs) no Brasil e América Latina. Disponibiliza também um canal online de informação e orientação para crianças, pais e educadores que estejam enfrentando dificuldades e situações de violência no ciberespaço, a exemplo dos casos de Cyberbullying. A SaferNet é responsável pela coordenação do Dia Mundial da Internet Segura no Brasil e coopera com as Secretarias de Educação de todo o Brasil para incluir o uso cidadão, ético e seguro na agenda das escolas e nas políticas públicas voltadas à inclusão digital”.
Juliana Cunha, da Safernet
Juliana conta que os crimes cibernéticos registrados com crianças mais comuns são:
- Aliciamento sexual infantil online (ação de seduzir, convencer e chantagear crianças realizada por um adulto com o objetivo de produzir imagens eróticas ou sexuais e cometer abuso sexual infantil online e off-line);
- Pornografia infantil (imagens de crianças em atividades sexuais reais e simuladas ou dos órgãos sexuais para fins primordialmente sexuais);
- Crimes de ódio (conteúdos que promovam e/ou incitem o ódio, a discriminação ou violência contra qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos, baseado na raça, cor, religião, descendência ou origem étnica ou nacional).
No portal da Safernet é possível acessar um gráfico detalhado com os indicadores de denúncias de crimes virtuais de 2008 a 2013.
A coordenadora psicossocial ressalta como os responsáveis devem agir caso suspeitem que a criança esteja sendo vítima de algum crime virtual: “Conversar com seus filhos sobre o contato de pessoas que eles não conhecem, ensinar a bloquear, não responder e reportar. Escolher sempre ambientes e serviços para crianças na Internet que ofereçam moderação. O moderador faz o papel de um adultos num espaço de convivência de crianças, detecta se há algum perigo e protege contra contatos e conteúdos impróprios.
Para casos de aliciamento e/ou pornografia infantil, denunciar na central de denúncias da página da Safernet ou da Polícia Federal.
Em Juiz de Fora
A cidade ainda não conta com uma Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos, mas muitas ocorrências são registradas pela Polícia Militar e encaminhadas para um setor provisório da Polícia Civil. Esse setor fica responsável pelas ocorrências da região central de Juiz de Fora e, de acordo com a Delegada Ione Barbosa, são registradas aproximadamente 100 por mês.
A Delegada Ione Barbosa faz um alerta sobre os riscos da Internet, veja o vídeo abaixo:
É importante que a população se conscientize e não deixe de denunciar os crimes virtuais. Em Juiz de Fora, as denúncias podem ser feitas em qualquer posto da Polícia Militar, na Delegacia de Polícia Civil no bairro Santa Terezinha ou através do Disque Denúncia, 181.