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A Batalha dentro da batalha

 

Games não têm público definido, mas cada vez mais "trolls" tomam conta disseminando ódio e preconceito

 

Rafaella Dornelas

 

          Os games on-line vêm tomando conta do mercado de jogos. Hoje,  é muito mais fácil clicar e comprar um jogo na Steam do que adquirir vários CDs e DVDs de jogos. Mas desde que surgiram os MMORPG (Massively multiplayer online role-playing game), ou seja, um jogo de computador que permite que milhares de jogadores criem personagens em um mundo virtual dinâmico ao mesmo tempo na Internet, surgiu também o cyberbullying. Por ser um estilo de jogo estratégico, os MMORPG demandam tempo, conhecimento de jogo e habilidades individuais.           O mais famoso game do estilo é, sem dúvida, o World of Warcraft, que foi lançado em 1994 pela produtora Blizzard e contabiliza mais de 10 milhões de jogadores ativos*. E foi a partir do mundo Warcraft, precisamente o Warcraft III: Reign of Chaos lançado em 2002, que surgiram os Mod - mapas criados por usuários a partir do mundo Warcraft. Uma das extensões mais famosas foi o game Defense of the Ancients, o Dota.

        O Dota, Dotinha ou Doto, como preferir, é um jogo no estilo MOBA (Multiplayer online battle arena), onde o objetivo é destruir a Árvore da Vida ou o Trono Congelado do oponente utilizando estratégias em equipe. Antigamente, para jogar Dota, o usuário precisava baixar o World of Warcraft III + Patch do Warcraft III: The Frozen Throne e ainda estar ligado nas atualizações dos mapas e servidores como Garena e RGC. O grande problema era que os servidores não tinham controle dos usuários e muitos gamers abandonavam o jogo bem no meio, causando irritação a outros players. Por isso, a fim de acabar com este e mais vários outros problemas, a Valve resolveu comprar a ideia inicialmente amadora e criou em julho de 2013 o Dota 2, que desta vez está amparado pela gigantesca plataforma de games on-line Steam. 

        Assim como os jogos Ragnarök, Tibia e League of Legends, o Dota é baseado no esquema de multiplayers on-line, ou seja, é possível jogar com outros players que estejam em qualquer outro lugar do mundo. E por serem jogos em que a melhor estratégia vence, a interação com os outros jogadores é muito importante para o sucesso das missões. E o que era pra ser uma coisa boa acaba se tornando um grande problema caso você seja um jogador Noob (jogador inexperiente) ou mesmo uma gamer (jogador do sexo feminino). Isso porque este tipo de player são os alvos preferidos dos famoso Trolls. 

 

 

O mundo dos games

 

         Hoje em dia, não é possível caracterizar um tipo de público nos jogos on-line e por esse motivo, é inaceitável que ainda exista preconceito entre os players. Em pesquisa feita para esta matéria foi constatado que muitas jogadoras se sentem ofendidas por outros jogadores, principalmente do sexo masculino. A maior queixa é que, ao jogarem em Pubs (modo de game público), elas são desrespeitadas de várias formas, desde insultos machistas como "Volta pro fogão" e "Mulher não sabe jogar" até ofensas pornográficas. Algumas jogadoras alertam também que muito players, ao descobrirem que se trata de uma mulher jogando começam a pedir para adicionar na Steam, Facebook e até número de celular, além das inúmeras cantadas durante o game.

         Na maioria das vezes, as jogadoras tentam ignorar este tipo de comportamento, mas nem sempre é o suficiente. A gamer Lovefoxx afirma que além de ignorar, ela costuma reportar os jogadores ofensivos no jogo e à comunidade em geral, pois acredita que na maioria das vezes o player é toxico. Já a Luiza, diz que hoje em dia evita participar de chat de voz com pessoas que não conhece no jogo e também tenta não dar a entender que é mulher para que a deixem jogar em paz. Mas infelizmente tem jogadoras que abandonam o mundo dos games devido ao grande número de assédio e ofensas – “Não jogo nada online para me preservar. Na "vida real", sou direta e pergunto se testariam meus conhecimentos se eu fosse um homem. Se a pessoa insistir em ser machista, corto o contato imediatamente.” - afirma Nina (Nick: Pixelain).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                            Jogadoras printaram os insultos que receberam durante as partidas 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                              Jogadoras printaram os insultos que receberam durante as partidas 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                   

                                                                  

Jogadoras printaram os insultos que receberam durante as partidas (Reprodução)

 

               Jogos on-line como o Dota 2 possuem meios de denunciar jogadores com má conduta. Basta, durante o jogo, clicar em denunciar jogador e escolher em qual nível ele se encaixa. Se a medida não funcionar, o gamer pode enviar uma mensagem diretamente para a Valve, de preferência com print do ocorrido. Porém, nem sempre as medidas de denúncias funcionam e, quando funcionam, o tipo de punição nem sempre é eficaz como afirma Carolina Porfirio (Nick: Kaol) –

“A punição é leve, o jogador precisa de muitos "negativos" para receber um banimento e quando recebe é de poucas horas.”. Uma outra jogadora, Paola Veronezi, conta que foram poucas vezes em que conseguiu algum resultado em relação as ofensas: “Somente uma vez o indivíduo foi punido com a perda da steam dele. Mas suas ofensas foram muito superiores as que normalmente ocorrem”, disse. Além disso, muitos jogadores possuem múltiplas contas, então se recebe ban ou tem sua conta excluída, basta logar em outra e continuar cometendo os mesmos atos.

Na maioria das vezes essas regras de boa conduta on-line não existem e quando existem não são aplicadas. Esse tipo de comportamento é muitas vezes o reflexo de como muitos vivem fora do mundo virtual. “O machismo, assim como a xenofobia, o racismo e a transfobia são crimes seríssimos e devem ser tratados como tal”,  afirma Luiza. Até jogadoras profissionais como a Karine Puchalski do Time 505 Girls, declaram já ter sofrido algum tipo de preconceito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           Na verdade, podemos perceber que se trata muito mais do que ofensas em um mundo virtual. Trata-se de uma problemática maior que envolve o (des) respeito de como as pessoas vivem e como exteriorizam seu pensamento. Os jogos estão longe de quebra tabus. Basta observar como as personagens de sexo feminino são representadas. Hoje, as mulheres representam metade dos consumidores de jogos, seja on-line ou mercado de vídeo games. Ainda assim, podemos perceber que o design das personagens é altamente sexista feito apenas para agradar o sexo masculino. Nesse sentido, nos parece regras e punições não são suficientes para o modelo atual produzido pela indústria de jogos. Os próprios desenvolvedores de games reproduzem este tipo de estereótipo, onde a mulher é vista como objeto, sexo frágil ou suporte.  É uma questão cultural, acima de tudo, que necessita protesto - e sobretudo ação - das mulheres.

         Não adianta só reclamar com um clique on-line e se sentir partcipante. É preciso se integrar, denunciar e agir no mundo físico!

 

Personagens femininos de jogos

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