Remei
Revista de Mídias Eletrônicas Informacionais
A terceira idade invadiu a Internet
Brasileiros a partir de 50 anos de idade tiveram crescimento no acesso a web nos últimos anos
Juliana Neves
Maria Botelho decidiu começar a usar a Internet para fazer amigos e bater papo com novas pessoas. Haroldo Pagy viu a rede como um meio de expressar suas ideias e divulgar seus pensamentos. Os dois têm, respectivamente, 83 e 80 anos e fazem parte desse novo grupo da terceira idade que resolveu se aventurar no meio digital.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre os anos de 2005 e 2011 o número de brasileiros com 50 anos ou mais que entraram na Internet aumentou em 222,3%. Mais 5,6 milhões de pessoas com mais de 50 anos passaram a acessar a Internet nesse período. Antes, em 2005, tal proporção era de 7,3%. As informações estão no levantamento “Acesso à Internet e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal”, com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2011).
É uma multidão que invade a web com um objetivo principal: aumentar suas relações sociais. Seja por meio de redes sociais, salas de bate-papo ou blogs com espaços para comentários, o que muitos querem é interagir e diminuir a sensação de solidão. Mas não foi esse o principal motivo que levou o empresário Haroldo Pagy a se conectar pela primeira vez, há cerca de seis meses. Depois de muita resistência de sua parte, ele percebeu que tudo o que acontecia no mundo envolvia o ambiente on-line, e resolveu que não podia ficar por fora disso.
“Eu tenho algumas dificuldades, por isso não posso correr muito, por enquanto não uso tablets ou smartphones, só computador mesmo, mas quero usar. Eu gosto muito de acessar os sites de assuntos políticos. Redes sociais como o Facebook são mais para interagir com a família, ver fotos e ver quem está conversando comigo”, comenta.
Foi com esse interesse em acessar sites políticos que o Sr. Haroldo decidiu criar um blog para dar sua opinião sobre os assuntos da cidade. Ele conta que nunca escreve somente em nome dele, e sim, em nome de toda a população que precisa ver alguma situação resolvida. E que não faz críticas, mas sugestões para eliminar determinados problemas da cidade. Um desses artigos já chegou até ser publicado em um jornal conhecido de Juiz de Fora. “Fiquei muito feliz. Meus amigos que leram o artigo me ligaram parabenizando pela iniciativa”, conta.
No vídeo abaixo, Haroldo conta um pouco mais sobre o seu blog:
O empresário é orientado pelo Instrutor de Informática, Marcelo Viridiano, que atua nessa área desde 1993, mas com um público bem diferente – o de crianças. Marcelo começou a trabalhar exclusivamente com idosos no ano de 2004, e explica que as dificuldades variam de aluno para aluno. “Alguns têm medo de fazer alguma coisa errada e estragar o computador, o que acaba fazendo com que eles pratiquem menos quando estão sozinhos, tornando mais lento o processo de aprendizado”, comenta.
Esse medo de “estragar” o computador está presente em muitos idosos que começam a utilizar essa tecnologia. Essa insegurança acontece devido à falta de experiência deles. Marcelo conta uma história de uma aluna que, logo após o fim da aula, ligou para ele dizendo que já tinha estragado o computador. “Perguntei o que havia acontecido e ela disse que uma mulher no computador tinha dito que os vírus tinham sido atualizados. E ela, com medo, desligou correndo o computador”, comenta.
Arte: Caio Zóia
Uma saída para a solidão
Dona Maria Botelho, que foi citada no começo desta matéria, procurou a Internet por um motivo diferente do Sr. Haroldo, mas comum aos demais: um meio de fazer amigos. Ela, que se diz usuária “desde o começo da Internet”, comprou o computador para o filho, que veio a falecer, e por isso passou a utilizar para conversar on-line. “Antigamente era melhor, existiam muitas salas de bate-papo e todo mundo queria conversar. Se você gostasse da pessoa, continuava conversando, se não, era só sair”, explica. Hoje ela utiliza um tablet para navegar. Para Dona Maria, a Internet também foi uma maneira de realizar sonhos. Ela conta que tinha curiosidade de assistir um parto, ver um bebê nascer, e foi através do Facebook que teve acesso a um vídeo que mostrava o nascimento de uma criança. “Foi muito emocionante, parecia que eu estava vendo de perto. Foi a coisa mais linda do mundo”, lembra.
Dona Maria acessa a internet todos os dias do seu tablet.
Em relação aos riscos que existem na Internet, Maria se diz “muito esperta” e conta que só entra em sites que a divertem, ficando sempre longe dos riscos. “Quando aparece alguma coisa que não me interessa, eu apago, levanto e dou uma volta”, explica. Por não acessar nenhum tipo de site que fuja do normal, Dona Maria fica sempre dentro de um conteúdo seguro. Para amenizar os riscos que existem no meio digital, a primeira ação do instrutor é instalar nos navegadores ferramentas que bloqueiam anúncios maliciosos e rastreadores de navegação.
Conversamos com Dona Maria via Skype. Veja no vídeo abaixo mais histórias dela com a Internet:
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