top of page

“Meu filho é gay, e agora?”

Uma iniciativa de conscientização e apoio para famílias de homossexuais

 

Por Noélia Bomfim Silva

 

 

 

A homossexualidade no Brasil ainda é um grande tabu, sofre crítica de líderes religiosos e políticos e é motivo de violência urbana. Mas por trás de tudo isso também está a família, cuja apoio é fundamental na vida de adolescentes e jovens que se assumem gays. Dentro desse contexto, no ano de 1997 em São Paulo (SP) surgiu o Grupo de Pais Homossexuais (GPH), primeira ONG voltada para famílias de homossexuais no Brasil, inicialmente formada por quatro mães que buscavam apoio e ajuda mútua na fase de aceitação de seus filhos. Em 2005, foi fundada a página do GPH na Internet e hoje conta com mais de 200 participantes em todo o país.

 

A fundadora da ONG, Edith Modesto, é terapeuta, professora e pesquisadora especialista em diversidade sexual. Ela começou a se informar melhor da realidade dos homossexuais depois que seu filho caçula se assumiu dentro de casa. “O grupo surgiu alguns meses depois que eu soube que meu filho Marcello é gay. Tive a intuição de que me sentiria melhor se conversasse com outras mães, mas não consegui encontrar nenhuma. Naquele tempo, a mídia não falava no assunto, o desconhecimento era enorme”, ela explica o que motivou a criar o grupo.

 

Edith também é escritora, autora de livros de ficção juvenil e de grandes obras que abordam a temática homossexual, como o famoso “Mãe sempre sabe?”, lançado pela editora Record, em 2008. Uma das suas maiores conquistas na luta pela conscientização sexual é o curso de extensão (pós latu senso) que ministra na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH – USP), cujo tema é “Diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero”, reconhecido e certificado pela instituição.

 

A professora ainda conta como foi recebeu a notícia sobre a orientação de seu filho. “Minha reação ao saber foi péssima! Ainda bem que o amor sempre vence”. Atualmente, Edith possui um consultório na capital paulista para atender pais, mães e filhos homossexuais. Além dela, o grupo é composto por um psicólogo voluntário, Klecius Borges, único especialista em terapia afirmativa do Brasil, e também as chamadas “mães facilitadoras”, que representam o grupo no estado de São Paulo, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, e Santa Catarina, e oferecem apoio a famílias de todas as demais localidades do país. “O GPH é conhecido até no exterior. Recebemos mensagens de todo o Brasil e de outros países também”, conta Edith.

 

 

 

Rosângela Polido é mãe facilitadora em Belo Horizonte, capital mineira, mas sua família é natural de Juiz de Fora. Ela explica que o objetivo básico da ONG é aproximar pais e mães de seus filhos homossexuais. “Para que as mães facilitadoras consigam alcançar isso, é necessário desempenharem variadas funções: receber e acolher jovens que estão em processo de aceitação, conversar com paciência e solidariedade com os pais, manter sigilo dos trabalhos prestados”, conta ela.

 

No entanto, Rosângela lamenta que, pelo pouco tempo participando como mãe facilitadora, ainda não teve a oportunidade de atender famílias de Juiz de Fora. Apesar disso, existem outras iniciativas na cidade voltadas para essa problemática, como o Coletivo Duas Cabeças, criado em 2014 para conscientização e combate à homofobia. Assista ao vídeo, feito com Guilherme Freire, um dos fundadores do Coletivo. Ele conta a história, as atividades do grupo, entre outros.

Estudante do Ensino Médio em Juiz de Fora, Paula Corrêa tem 17 anos e namora uma garota há três. Ela conhece o Coletivo Duas Cabeças e já levou sua família numa palestra promovida pelo grupo. Seus pais, Débora Corrêa e Marco Antônio, têm três filhos: a mais velha, que mora com o namorado em outra cidade, a Paula e um rapaz de 24 anos que também é gay. Eles contam, com bastante tranquilidade, como foram as fases de aceitação da sexualidade dos filhos. Na primeira descoberta, com o irmão de Paula aos 17 anos, a mãe teve mais facilidade de aceitar, porém o pai passou um bom tempo rejeitando a ideia, até que um dia disse ao filho: “Nós somos seus pais. Aconteça o que acontecer, aqui sempre será sua casa. Não vamos atrapalhar sua caminhada. Confia na gente e vamos tocar a vida”.

 

 

Já na história da Paula, foi o contrário. “Eu comecei a gostar da minha amiga do colégio e fiquei muito confusa no começo. Certa vez, eu me perguntei ‘por que não? Não tem motivo para eu ficar confusa com isso’. No começo, eu não pensava em contar pros meus pais, eu não podia imaginar a reação deles, nem desconfiava do meu irmão. Um dia, eu estava muito chateada com minhas notas na escola e resolvi contar.”

 

O pai, que pesquisava e procurava se informar, logo a acolheu. A mãe, no entanto, teve dificuldades em lidar e procurou ajuda psicológica, levando também a Paula. “Mas ela (Paula) não gostou da psicóloga, nós também não obrigamos...”, conta Débora Corrêa quando conseguiu superar e diz que a ajuda do filho foi fundamental para sua reaproximação e consentimento de Paula. Hoje eles têm um relacionamento admirável de apoio e afeto.

Conheça também a história de outros jovens gays cujos pais conseguiram aceitar a homossexualidade dentro de casa. O Canal das Bee, no YouTube, foi criado em 2012 por uma estudante de Comunicação e Multimeios da PUC – SP e hoje é composto por seis jovens graduados em Comunicação e uma psicóloga que auxilia no trabalho do grupo em casos que recebem por e-mail e pelo Facebook. Eles produzem e publicam vídeos de conscientização para a diversidade sexual. Dois deles foram feitos com jovens gays e seus respectivos pais. Vale a pena conferir!

 

Acordes de esperança

Paula Corrêa e seus pais, Marco e Débora Corrêa
Foto: Noélia Bomfim

Rosângela Polido e seu filho.

Foto: Divulgação.

bottom of page